Às vezes a gente precisa se pendurar na pontinha do pé para chegar mais alto.
Chegar naturalmente, sem a ajuda do salto.
Uns centímetros a mais é capaz de nos livrar da derrota,
de mudar um destino.
Não importa se o pé dói, a gente acostuma.
Não importa se o desequilíbrio ameaça, mais cedo
ou mais tarde a gente encontra o ponto.
É levantando o pé que se pega a fruta, que se enxerga na multidão.
É na pontinha do pé os passos mais lindos do ballet,
é com esse esforço que se alcança um abraço maior que a gente.
Na euforia, é levantando o pé para o ar que a gente se exalta.
Quem cala tem os pés plantados no chão.
O peso não deixa a gente se arriscar e quem
não arrisca não sabe o que é chegar ao alto.
Acaba trocando os pés pelas mãos.
Usa o tato para caminhar entre o desconhecido.
Foi impulsionando os pés que muita gente caminhou por
onde não imaginava, alcançou o que procurava.
Que Deus me permita ter pés que eu mesma possa guiar e
não que eles sejam simplesmente levados.
Não quero manter meu calcanhar grudado à textura confortável do sapato,
maldita acomodação. Aquele que busca o óbvio se garante, mas não vive.
Quero ter a força necessária para caminhar na ponta dos pés,
lá em cima, onde aos mãos não alcançam, onde os olhos não enxergam,
onde só o momento da chegada revela o que existe.
Não quero temer a insegurança.
Ela faz parte da vida, ao contrário do pé no chão,
que denota o significado de uma mera existência.